As eleições estão chegando e junto com ela uma avalanche de
notícias tendenciosas, de fraudes, de reportagens forjadas para nos convencer
de que aquele candidato é ruim, ou aquele outro não serve para nos
governar. A liberdade de imprensa talvez seja o bem mais valioso de um povo, sua
inteligência coletiva. Mas, pode ser também um poderoso instrumento
de persuasão servindo aos interesses de poucos. Neste sentido ela se aproxima
muito de uma órgão de comunicação estatal servindo
a um regime totalitário.
Os escândalos são tantos, de tão variada forma e tamanho,
oriundos de todos os blocos partidários que me restou apenas duas opções:
Anular meu voto e me assumir anarquista ou ignorar a cascata de imoralidade
que nos banha e eleger mais uma vez um candidato que vai perpetuar as coisas
da maneira que estão. Aliás, votar esperando mudança é
uma utopia. A máquina está instituída com seus milhões
de funcionários estáveis... Mudar o que? Três políticos
que viajam para tirar fotos e dar entrevistas a fim de nos convencer que está
tudo uma maravilha quando na verdade continua tudo como sempre foi? Ou você
acha que a professora que dá aula para o seu filho no colégio
público vai ensinar muito melhor depois da mudança do governador?
Sou do tipo de pessoa que se desencantou com o mito dos políticos profissionais
e passou para a micropolítica. EU vou visitar as escolas do meu bairro
pra saber como estão. EU vou ao posto de vacinação cobrar
melhor atendimento. E ponham uma coisa na cabeça de vocês. Enquanto
a elite e a classe média (que são a minoria) não fizerem
isso pelo povo desse país as coisas não irão mudar. O povo
não sabe escrever uma carta para um deputado e não tem coragem
de ligar para a redação de um jornal a fim de fazer uma denúncia.
O povo precisa de ajuda nesse sentido. Os advogados brasileiros são uma
vergonha. Assistem o Estado de Direito ser ridicularizado a cada esquina e nada
fazem pelo povo. Deveria existir centenas de ONGS de advogados para garantir
o direito a uma vida digna para os mais pobres. É tanta coisa, tanta
coisa... Chega, não vou falar mais nada, cada um que tire suas conclusões...
Sabe aquela música do filme Casablanca, “As Times Goes Bye”?
“It is all the same history / a fight for love and glory / the fundamentals
things of life / as times goes bye...” No fundo a vida é isso,
uma luta por amor e glória enquanto o tempo passa. Só faltou um
pequeno detalhe. A luta pelo amor e pela glória são estritamente
pessoais, nada tem a ver com o povo, coisa que os políticos entenderam
muito bem.
Ricardo Raele é Cientista Social pela USP, é consultor da UNESCO. Atuou como executivo por mais de dez anos, com trabalhos realizados no Brasil, na Alemanha e na Áustria. Estudou arte oriental na província de Yunan, China.
E-mail: rraele@insec.com.br