Ou o que se pode aprender com Bill Gates, Silvio Santos e Mãe Dinah, não
necessariamente nesta ordem.
Você tem dúvidas de como tomar boas decisões num mundo
de incertezas? Decida-se! Se a resposta for sim e que, de fato, tomar decisões
sem ter todas as informações disponíveis é uma experiência
profissional cada vez mais corriqueira em sua atividade, você possivelmente
estará ansioso ou ansiosa para conhecer um método mais confortável
e seguro para essa atividade.
Primeiro é necessário reconhecer que a tomada de decisão
é um processo tão imperfeito como é o próprio ser
humano, com suas quirelas políticas, jogos de poder, manias pessoais
e traumas passados. E, principalmente, trata-se de um processo que o decisor
ou decisora não controla.
Ao refletir-se sobre uma decisão, tudo se passa como se fosse estabelecido
um debate interno. Vale aqui a expressão “da discussão nasce
a luz”. Mas, invariavelmente, esse debate nos leva a um conflito entre
idéias e caminhos possíveis de solução. Quando um
debate ocorre num grupo de pessoas, muitas vezes a discussão degenera
para um confronto emocional com ataques pessoais e muita irracionalidade. Mas
o que está se tratando agora é um debate interno e não
há ninguém para se acusar além de nós mesmos.
Como minimizar os efeitos emocionais dessa autodiscussão? O truque é
trilhar um chamado exercício de ingenuidade, isto é, despir-se
de todo conhecimento supostamente pré-estabelecido e testar todo argumento,
mesmo aqueles mais bem construídos, levantando preocupações
inesperadas, mas inquietantes.
Um outro aspecto a ser levantado diz respeito ao momento de finalizar o exercício
da ingenuidade. Terminar muito cedo pode ser tão danoso quanto esticar
a decisão no tempo. É preciso tempo para gerar opções,
avaliar alternativas e desenvolver um plano de ação. Que tal postergar
sua decisão para amanhã de manhã?
Mas, por outro lado, corre-se o risco de envolver-se num processo neurótico
de não reconhecer a realidade e ficar indefinidamente retornando ao mesmo
tema inicial. Chega uma hora em que é necessário bater o pênalti
e alguém, no caso você, deve chamar a responsabilidade. A recomendação
é apurar o senso de generalização, isto é, quando
se percebe que as idéias e percepções já não
ajudam no reconhecimento de algum padrão descritivo da situação,
é hora de parar e eleger uma alternativa.
INTELIGÊNCIA É A ARTE DE GERENCIAR A INCERTEZA
A incerteza é parte integrante de qualquer sistema de suporte à
decisão (DSS – decision-support systems). Seria muito bom contar
com informações acuradas que reunissem uma soma de fatos, crenças
e percepções bem desenvolvidas. Mas essa situação
quase sempre é uma fantasia. Bem que os estatísticos procuram
ajudar quantificando o grau de incerteza nas diferentes medidas e resultados
disponíveis. Mas a estatística só mede a informação
disponível. Se há mais informações ou se a qualidade
da informação resgatada é ruim, o grau de incerteza passa
a ser relativo.
Reconhecer o que gera incerteza pode ajudar a fazer uma avaliação
da qualidade da informação disponível. Há duas fontes
principais de incerteza: o processo de levantamento de dados - historicamente
coletados e o padrão de definição das previsões.
Sem uma rigorosa análise de como foram capturadas as informações
e de como elas foram armazenadas torna-se impossível medir o grau de
incerteza com a qual se defronta.
Qualquer informação merece uma rotina padronizada de coleta.
Será que o nosso sistema colhe as mesmas informações de
modos diferentes e no envio de um sistema para outro se perdeu algo no processo?
Muito embora se tenha vários métodos para proceder a sistemática
rotina de “limpeza” dos dados, é certo que nenhum método
assegura a exclusão da incerteza no processo de transformação
dos dados brutos coletados e seu armazenamento como informação.
Na seqüência do processo e contando com informações,
como visto acima, que assumem um grau de incerteza quanto à sua qualidade,
procura-se generalizar um conjunto qualquer de informação para
se produzir previsões. E, lógico, deve-se associar alguma medida
de risco nessa modelagem. Os databases com certeza ajudam, minimizando os riscos,
ao associar figuras estatísticas nos resultados obtidos mas ainda é
necessário algo mais para elevarmos a qualidade do processo decisório.
QUANDO CONFIAR EM NOSSA VOZ INTERIOR
Parece incrível, mas dada a reconhecida insegurança ou até
incapacidade de gerenciar a incerteza com a utilização de sistemas
de suporte a decisão, muitos profissionais alegadamente vêm embasando
suas decisões em sua intuição. Isso é ruim? Considerando
o sucesso das decisões de muitos profissionais e empreendedores intuitivos,
não necessariamente. O problema é que poucos conseguem descrever
o processo pelo qual se chega às decisões certeiras.
O que se sabe é que as emoções e sentimentos desempenham
um papel não só importante como também essencial na habilidade
de tomar decisões. Talvez haja um processo mental que inconscientemente
filtra opções interessantes, a partir do rastreamento de várias
possibilidades, graças simplesmente à vontade de acertar.
Outra idéia é que a inspiração para uma boa decisão
deve-se à ausência de regras e padrões profissionalmente
estabelecidos. Isso permite o reconhecimento de padrões num conjunto
de informações a partir de padrões referentes a um outro
conjunto de informações completamente diferente. Isso explica
porque alguns profissionais conseguem identificar soluções, ao
reconhecer algum padrão que passa completamente desapercebido pelos demais.
RECEITA PARA DESENVOLVER A INTUIÇÃO
Nem sempre a intuição nos levará a um bom termo, mas não
se pode negar que a experiência apura a qualidade desse método.
Há um perigo: que nos tornemos autoconfiantes e passemos a acreditar
somente em nosso bom senso. Para evitar esse perigo deve-se proceder a um exame
sistemático de consciência.
Esteja muito mais consciente das más decisões do que das acertadas;
procure refletir sobre as decisões tomadas e faça uma autocrítica.
Não se enamore da sua brilhante idéia, não se esqueça
que vivemos num mundo de incertezas e tudo é fluido e mutável.
A boa decisão é aquela que constantemente se ajusta e se atualiza.
A palavra chave é humildade e reconhecimento das limitações.
Quando Bill Gates resolveu deixar sua condição de CEO da Microsoft
ele levou em consideração sua limitada condição
de atuar em todos os desafios da companhia. Onde, ele avaliou, sua experiência
e intuição seriam mais úteis? Ao decidir ele não
teve dúvidas e num exercício de ingenuidade voltou para a posição
onde tudo começou.
Hoje, Bill Gates trabalha junto aos desenvolvedores de produtos da Microsoft.
Por aí ele poderá novamente representar a diferença.